quarta-feira, 9 de junho de 2010

Reflexos

Sem pensar, eu fui escrevendo... e percebi a fragilidade do existir. A fragilidade do pensar, sentir, ver, viver.
Pensei a respeito dos significados e percebi também que para cada um, as coisas são diferentes.
Toda vez que chorei, recordo-me, em nenhuma foi pelo mesmo motivo. Não que eu tenha tido, e tenha, motivos tantos ou de sobra, mas cada momento exprime relevância diferente e parja cada importância, uma lágrima diferente.
Não é simplesmente pessimismo ou uma tentativa de parecer visceral, é apenas a expressão verbalizada da dança num ritmo descompassado.
Para cada um, passos podem ser apenas passos, mas à medida que se vai em frente, percebe-se a intransponilidade de alguns obstáculos. E não adianta dizer que algo ajudará a superar, algumas coisas e pessoas simplesmente não conseguem.
Desejar por desejar, todo mundo o faz. Há quem deseja comer e não come. Há quem deseja morrer e vive. Há quem deseja parar, mas tem que ir em frente. Desejar simplesmente não significa conseguir, ter ou obter. Há quem deseja viver e morre...
Coisas erradas sempre existirão e as certas deverão ser uma reinterpretação das erradas. Quem sabe um dia chuvoso não seja uma tentativa de prevenir o excesso de velocidade que levará ao acidente, à morte, ao fim.
A música nem sempre é bem-aventurança. Nela co-existem a alegria, a tristeza e todas as outras emoções. Você só ouvirá aquelas que seus ouvidos do espírito quiserem ouvir e não todas as que a música canta. Não adianta, a todo custo, querer mudar ou melhorar. Algumas coisas simplesmente devem ser do jeito que são. Algumas pessoas precisam sofrer tudo aquilo que tentamos remediar para que cresçam e percebam o mau que faziam a si próprias.
Temos que parar de querer ser os heróis dos fracassos. Eles existirão em alguma instância, e cada vez mais naquelas onde não temos acesso ou controle.
Ser somente parece não estar bastando. Temos, ultimamente, que superar, além dos outros, a nós próprios. E ser mais do que somos é tão difícil, pois achamos ser sempre o melhor que podemos ser. Voltar a nós um olhar crítico e de desprezo é tão difícil quanto simplesmente olhar para nós.
Acusar o outro deveria ser uma auto-análise. Só vemos no outro, seja este outro qualquer um, aquilo que também é nosso. Se vemos o outro como fraco é porque sabemos identificar um alguém fraco e só sabemos criticar aquilo que temos conhecimento, ou seja, aquilo que também somos: fracos.
A consistência das coisas consiste nos significados que damos a elas e na importância que damos. Nunca ou talvez nunca faremos aquilo que julgamos pouco ou nada importante. Correr atrás do dinheiro é atividade somente daqueles que dão tamanha importância às aparências e às posses. O ser e o viver caminham lado a lado e em sentido oposto às necessidades carnais e mundanas. Somente aquele que é em essência terreno saberá ver apenas o que é em essência material. Aquele que se descola com profundidade conseguirá ter tudo que é necessário sem sentir falta de um preenchimento de cores.
Até mesmo o próprio vazio é preenchimento.
Estar cheio de vazio representa a busca por algo que é maior que o próprio viver.
O vazio é a busca de algo maior que o próprio ser e existir. Algo muito maior.
O vazio é a busca de algo maior que o próprio viver.

domingo, 4 de abril de 2010

Noutra Dimensão

Hoje meu coração amanheceu apressado.
Fora de ritmo, acalorado, intenso.
Numa vontade quase impossível de se medir.
Vontade esta tão grande de sentir.
Sentir tudo aquilo possível de se sentir.
Pois sabia, o vento da mudança se aproximava.
Vento tal que trazia as bem-aventuranças dos homens. Homens de coração.
Vento que trazia tudo que fosse renovador.
Novo sol, novo céu, nova água e terra.
Novo amor, novo olhar, ouvir e sonhar.
Tudo que fosse novo, este vento trouxe até meu coração.
Não digo que me surpreendi, pois já o esperava.
Aos poucos, já não fui o único que amanheceu ruborecido pela emoção.
Ao longe brilhava um caminho nunca antes trilhado.
E neste caminho haviam flores e frutos jamais vistos ou comidos.
Em outrora, meu coração teria sido insano.
Mas não hoje, quando muitos outros homens pisam pela primeira vez neste caminho livre para correr, saltar e voar.
Vi aos poucos chegar alguém carregado de fardos.
Fardos estes que representavam as memórias passadas de longínquos tempos e lugares.
Memórias que deveriam ser abandonadas no velho caminho.
Pois neste, somente era possível ir em frente despido. E despido significa ir além sem nada. Absolutamente!
No céu brilhavam estrelas à luz do sol.
Tão novo era este tempo e lugar que até novas canções os pássaros entoavam nas árvores.
Aos poucos, porém rapidamente, fui me acostumando àquela imensidão de cores e novidades.
As pessoas que passavam por mim eram sorridentes e aparentavam serenidade.
Andavam apressadas, entretanto demonstravam preocupação com aqueles que seguiam lentamente.
Meu coração definitivamente sentiu-se em casa.
E para longe eu rumei sem rumo.
Ouvia notas profundamente apaziguadoras.
Impeliam-me a seguir cantando. E era impossível fazer o contrário, pois todos convidavam a cantar o mesmo som, no mesmo ritmo, na mesma afinação.
Vez ou outra um conhecido me encontrava.
Sorria e convidava a todos para correr em frente.
Sem esperar por companhia seguia na frente clamando e divulgando sua liberdade.
De fato, estávamos todos livres naquele lugar.
Sem corpo, sem grilhões, sem conceitos.
Luz infinita, asas e pura paixão num viver nunca antes experimentado.

sábado, 27 de março de 2010

Narcisismo Exacerbado

- Amor, se eu morresse hoje, todas as minhas palavras se cristalizariam no tempo, como uma gota de chuva que cai e se torna um granizo, caindo brutalmente, invadindo o espaço de alguém.
- Minhas palavras não seriam esquecidas, nem por você, nem por ninguém. A impressão da minha morte prematura faria com que eu fosse admirado. Faria com que, de uma hora pra outra, as pessoas me amassem. Mas, amor, desculpe-me pelas palavras espinhosas e áridas que proferi em um momento insano. Desculpe minhas falhas, que também marcarão minha existência após minha partida.
- Todos os meus sentimentos sumirão, desculpe por eu não mais amá-la depois que eu me for. Todos os nossos laços desatarão, mas meu espírito lembrará de quão bom foi tê-la ao meu redor, e, por isso, levarei em minha essência o sentido que deu à minha nobre passagem por aqui.
- Se eu morresse ainda hoje, arrepender-me-ia de nada. Absolutamente! Fiz tudo que meu coração pediu, tudo que minha mente desequilibrada desejou eu dei e por isto, nada me passou em branco. Se fosse agora, ficaria contente por ter ao menos, na visão mais simplista do evento, ter nascido. Nascer me possibilitou descobrir a grandiosidade de morrer. Deixar de existir é a maior ferida que meu coração poderia sofrer, mas ao menos conhecerei a nobreza desta dor.
- Ainda repito: se eu morresse hoje, amor, imortalizaria meu nome. seria lembrado para sempre como aquele que morreu jovem, que morreu sem sequer viver o início da própria vida. Seria bom, pois assim minha lápide não afundaria em meio à poeira e a terra. Antes de cair no esquecimento da velhice e na obstrução de vidas, prefiro morrer aqui e agora, pois só assim terei dado sentido ao meu incessante empenho de conqquistar corações: eles não esquecerão o que fiz por eles.
- Mas, se não morrer hoje, espero pela minha morte como alguém que espera pelo trem que o levará para casa: sentado, porém feliz e satisfeito pelo dia árduo de trabalho.

Vã Esperança

Da morte não espero mais nada.
De mim, levou todos aqueles que amei.
Fez das minhas flores um cinzero de lamentos.
E do meu dia, um anoitecer cinzento.

Da morte espero simpatia, na verdade.
Espero que de mim, poupe-me apenas a dor.
Porque não suportaria sofrer na minha própria morte,
já bastando a dor que senti pelas outras.

Espero ser carregado,
como a chuva, pelas nuvens escuras,
e dela não ter medo.

Espero vê-la sorrindo.
que de mim faça seu amigo.
Para que encontrem-me meus amados.

O Cão Perdido

O cego segue por onde o guia segue.
O guia guia por onde o cego não sabe seguir sozinho.
Sozinho o cego não segue nem sequer por onde o guia segue.
Segue por que segue, e se segue, segue porquê o guia por ali segue.
Segura na mão, no braço, no espírito, na respiração do cego.
O cego segue os passos que o guia pisa.
Segue a música que canta nos seus ouvidos.
Ouve a música que o guia canta.
Canta para que o cego siga.
Segue, porque o guia segue o cego, que guia o cego que segue o guia, que guia o cego que é guiado pela guia do cão.
Late porque é música.
Música que o cego segue.
Segue porque tem que ir em frente.
Vai em frente porque tem que chegar.
Chega porque é o fim.
É fim porque o guia e o cego seguiram o caminho, um guiando o outro e não deixando nenhum para trás.
Atrás ficou o cão que se perdeu porque não tinha ninguém que o guiasse.
A guia do guia é a guia do cego e não a guia do cão.
O cão não guia, apenas acompanha.
O cego segue seguindo por onde o guia guia.

Movimento Contínuo

Enquanto o tempo passa o café esfria, as nuvens caminham no céu acinzentado e a boca retorce na mansidão do escurecer.
Enquanto o tempo passa o sofrimento se aproxima, a gente poupa o peito e a cada dia que passa uma nova lição é aprendida e cada vez mais ficamos fadados ao nosso próprio desejo.
Enquanto o tempo passa a lágrima rola, a memória se debate e o coração armazena mais uma dor conquistada.
Enquanto o tempo passa o braço estica, mais uma mão é apertada e somamos a cada dia um desconhecido novo em nosso círculo de conhecidos.
Enquanto o tempo passa o sorriso se abre, os olhos se abrem ainda mais e o sol continua a cultivar a esperança no solo árido da vida de alguém.
Enquanto o tempo passa o amor acontece, a paixão queima o coração e o beijo aparece naturalmente.
Enquanto o tempo passa desejamos que ele retorne, que a amargura desapareça e que a solidão deixe de ser companhia.
Enquanto o tempo passa cada um é um, cada um olha por si, o café esfria para todos e o tempo não deixa de avançar.

Olhar é diferente de ver

Sustentei-me através dos tempos somente de aparências.
Foram elas que possibilitaram a minha sobrevivência.
Se de aparência que me apresento, devo à minha nobre justificativa meu sucesso por onde passei.
Como algo é conhecido, numa segunda instância, apreciado e talvez enaltecido, senão pela aparência convidativa?
Meu coração jamais seria descoberto.
Minhas palavras jamais ouvidas.
Meu olhar jamais lançado.
Meu sentimento jamais retribuído se não fosse por minhas aparências amigáveis.
Quisera eu que tudo fosse o contrário.
Que o conteúdo sabido antes mesmo do olhar preconceituoso.
Da aproximação pelo aconchego e não pelas marcas.
Da paixão por identidade e não por cor.
Porém isto nunca aconteceu, tampouco acontecerá.
E foram pelas aparências, pelas imagens, pelos nomes que as vidas se construíram.
E eu, em meio a tudo isto, não pude evitar de me utilizar destas mesmas artimanhas.
Acabei sendo eu meu próprio cartão de visita.
Trajo-me bem por isto: para que desejem que eu esteja por perto e que se aproximem.
Afinal, se me descuido, julgar-me-ão sujo e talvez, meu conteúdo, vasto e rico, nem seja conhecido.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fardos

Tantas foram as coisas que deixei para trás.
Não as pude carregar.
Meu corpo pequeno não aguentaria tanto peso nas costas, além do meu próprio.
Foram capas, máscaras, pessoas que cruzei no caminho de vinda que optei por deixar. Porém elas inscreveram em mim.
Marcas, rabiscos, etc.
Minha sorte é ser só um e assim, carrego coisas suficientes apenas para um.
Sorte é não ter mais dois ou três pares de braços, pois carregaria coisas desnecessárias.
Pudera eu ter apenas um e não um par, pois assim ou comeria ou beberia... ou fumaria ou beberia... ou apartaria um mão qualquer ou beberia...
Desta vez reconheço a minha fragilidade. Apenas um não carrega a sobrevivência sozinho e assim, precisa de outrem para viver.
Ninguém é o que é sozinho. Ninguém consegue viver sozinho. Ninguém sorri para si.
Sorte minha não ser um baú para estocar lembranças.
As boas, as más, as imparciais.
Um sim, um não, um irrelevante.

sábado, 6 de março de 2010

O Cego

Eu poderia ver como o cego vê: de um degrau menos impuro possível do mundo.
Um ver imparcial, sem pretender ver a beleza visível aos olhos e dessa forma, não me corromperia por alguém que tem os dentes mais alvos do que outros.
Eu também não perceberia a cor da pele e assim, escaparia automaticamente da rotulação social que há entre aqueles coloridos. Eu ouviria apenas a voz e dessa forma, apenas me aproximaria das mais doces possíveis e perceberia que não é a cor que nos define e sim aquilo que proferimos em alguma mansidão.
Eu não veria a ruína dos homens, tampouco avistaria as flores já bruxuleantes, sangrando, envergadas. Eu apenas sentiria. E seria dotado de emoção e por isto, saberia melhor conduzir minhas tormentas.
Não veria sequer um dia cinzento, apenas notaria-o como um dia mais fresco, onde o sol não apareceu completamente para castigar a todos. As nuvens percorreriam os céus sem que eu as notasse. Um dia nublado não faria meu humor deprimir, nem mesmo um dia de sol faria meu humor se alegrar.
Quando eu tiver o olhar e ver do cego, mesmo que pareça insano e impossível, eu poderei me libertar de todo e qualquer preconceito que ainda resiste nos péssimos produtos que consumo deste mundo que quer me vender cada vez mais.
Quando eu possuir discernimento suficiente para ver como o cego, então terei iluminado minha visão, e meu coração neste momento terá se enobrecido e não mais será necessário que eu seja cego para ver como ele vê.
Terei em mãos todas as ferramentas para cegar o mundo aos poucos. Não preciso que todos estejam para então eu me encontrar, quando eu mesmo esteja cego. Preciso apenas de mais um cego, para que ajude-me ver aquilo que ainda resisto.
Eu vejo muito e meu olhar e ver é muito superficial, muito embora ele pareça ser profundo. Talvez eu esteja atado à superficialidade de tudo que seja profundo.
Quando eu for cego, só então eu passarei a ver as coisas despretensiosamente.
(Escrito numa mesa de bar)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Felicidade

Vivemos em busca de um único ideal.
Todos nós buscamos uma única coisa durante a vida toda.
Alguns sabem desde o início como buscá-la, outros porém, descobrem que é atrás dela que correm muito tardiamente.
Alguns passos que damos nos desviam deste longo trecho o que o torna ainda mais longo, porém sem muita demora voltamos a busca-la incansavelmente.
Dias de sol, de chuva, de alegrias e tristeza nos fazem com que a desejemos mais e mais.
Este ideal movimentou multidões ao longo dos anos, dos séculos.
Gerou guerras impiedosas, amores descomedidos, paz desconfiada, famílias abastadas e reinados gananciosos. Tudo por um único ideal.
Este ideal fez com que os desesperançosos acreditassem na vida após a morte, fez com que os cansados acreditassem na morte após a vida e os românticos acreditassem na vida eterna.
Ela coloriu jardins, corou as faces da bela donzela, fez o guerreiro sonhar com o seu retorno para casa e instigou o mendigo a continuar procurando por todas as ruas alguém que o levasse para casa.
Todo homem busca ser feliz e isto faz com que escolha os mais variados caminhos para encontrá-la.
A felicidade varia para cada um, entretanto todos a desejam.
É aúnica força que ainda preserva a vida em cada espírito.

Fórmulas....

Quando sentires, sinta por completo. Sobre o que se passa, deixe que passe.
Você perceberá que as coisas que sente desaparecerão no momento tal em que esgota-las de atenção.
Evidencie-o e encare-o!
Não há como abafar o calor da hora, tampouco deixar de lado o que grita em sua frente...

Lar, Doce Lar

Finalmente encontrei o meu lugar.
Algo parecido com o que sempre desejei. Lugar este onde me realizo.
Aqui vivo sem fim, sem depois ou amanhã. Se sento para ver o céu azul ou a tempestade, aprecio sem moderação.
O depois é um momento que jamais chegou. O amanhã, um dia que jamais existirá, pois estou no hoje permanentemente e não me permito sonhar com coisas que nunca existirão.
Neste meu lugar, tudo que quero, faço ser possível, pois tudo depende só de mim.
Os dias que passo aqui não daria a ninguém. Faço por merece-los e ninguém faria melhor para recebe-los.
Vivo em segurança no meu lugar. Meu paraíso é feito de altos e baixo e sei perfeitamente como enfrenta-los. Por isto não padeço, por isto não estremeço.
Não digo que não entristeço, pois o sentimento é inevitável e faz-me rir depois da tormenta.
Aqui vivo meu sonho para um hoje próximo. Realizo meus desejos e dou a mim tudo aquilo que preciso.
O grande trunfo disto tudo é algo bem simples: contentar-me com o que tenho e correr atrás do que preciso. E não é muito, somente o suficiente.
Raramente me arrependo. Das vezes que isto acontece, somente é por não ter feito.
Busco no meu espírito tudo aquilo que me conforta e passo adiante o que me sobra: confiança e fé na vida.
Orgulho... só tenho para sorrir dos meus feitos. Quando olho para trás e percebo o quanto lutei pela vida é aí que esboço um largo sorriso e não me decepciono por vezes ter fraquejado.
"Canto por que o momento existe" e isto me faz feliz.
Ser feliz é sentir-se inteiro e satisfeito!
No meu dicionário, meu lugar corresponde à satisfação e a minha satisfação está no meu paraíso particular.

Considerações sobre o adeus

Nunca alguém disse-o sinceramente. Nunca alguém desejou partir ou deixar que o outro fosse. Deixar ir ou ir é o mesmo que perder parte de si, por que cada um é o que é por conta da relação com o outro.
Dizer adeus requer uma força tão igual à necessária para viver. Por isto, ao dizer adeus parecemos estar morrendo ou já estarmos mortos, pois gastamos força e energia bastante, o suficiente para que padeçamos.
Adeus representa o fim. O fim de qualquer coisa, mas principalmente de relações.
Não dizemos adeus vulgarmente. Dizemos para algo ou alguém com quem mantemos relação. Uma pessoa que ficou no passado, uma roupa que se rasgou, um chinelo que não calça mais ou um disco que não mais canta, todos mantinham uma relação conosco.
Se é o outro que nos define, um adeus causaria um caos em nossas percepções. Um adeus faria com que nos tornássemos fragmentos.
Fragmentos estes que espalhados nada significam. Uma ou outra parte isoladamente não corresponde ao todo.
Minha parte de tristeza não seria nada se não estivesse colada em mim. Tampouco meus sorrisos, gestos, insônia, pormenores... Nada me definiria, senão todos juntos. Cada parte poderia somar a um estranho, porém depois de um adeus, subtrairiam de mim.
Um adeus dito está dito!
Não há como fazê-lo voltar boca adentro. A relação está dissolvida. O espelho quebrado; por que é isto que é: um espelho; onde nos vemos, nos percebemos no reflexo dos olhos do outro.
Um adeus é fatal e é por este motivo que nunca alguém desejou reproduzi-lo sinceramente: ninguém quer ter na consciência a culpa pela destruição. Isto é responsabilidade do tempo. Somente o tempo pode destruir uma relação, seja ela da espécie que for, sem que culpe-se por isto. Afinal, é esta a sua função: corroer.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Infortúnios

As coisas morrem e temos que aceitar isto.
E não morrem por tristeza, fome ou doença. Morrem por que é a ordem natural da vida. Morrem por que já maduraram. Morrem porque matam-nas, às vezes.
E temos que aprender que elas não voltarão. Não pelo menos como eram.
E aprendendo que elas não voltam mais, aprendemos a viver sem elas.
E nos acostumamos. Feliz ou infelizmente.
Não é algo agradável de se dizer ou pensar. A morte, em algumas vezes, é pouco convincente e conveniente com a hora.
São as pessoas que se vão. São nossas coisas, nossos costumes... nossos “eus” que morrem.
E para cada morte que presenciamos nos damos o desplante de substituí-los por outras roupas, outros amigos, outros filhos, outros amores, outras vidas... outros “eus”.
E nada será novamente como sempre.
O “Para Sempre” só dura até que acabe, mas nos faz ser bobos e otimistas a ponto de crer que realmente será pra sempre verdade.
E quando eu lembro de tudo que já acreditei ser pra sempre, eu paro de pensar e lembro o quão sonhador já fui e que hoje, nada melhor que uma boa dose de realidade.
Quando eu sinto a morte próxima eu sorrio, pois sei que algo nasce toda vez que se morre.
Morrendo dá-se a liberdade de ser o que se pensar querer.
Morrendo dá-se a vontade de realmente morrer.
É morrendo que se vive.
Pois quando se têm os dias contados se aproveita cada segundo que se aproxima do fim.
Pois quando não se têm escolhas, a única que se tem a fazer é morrer para viver novamente.
Quando se vive estamos passivos de morte.
E felicite-se: é a melhor parte!
Ninguém sabe viver o hoje, pois têm medo de morrer à noite. Têm medo de morrer amanha. Têm medo de nunca morrer.
E assusta morrer e não nascer. Amedronta. Aterroriza existir e não ser e não viver.
Por isto tem-se o medo de morrer e deixar de existir o que não se vive.
O medo de morrer um dia é o mesmo medo de não nascer todos os dias. É o mesmo medo de que se nunca nasça.
O pior é quando algo morre e nada nasce no lugar.
Como uma árvore que morre sem deixar frutos nem sementes para continuar vivendo.
Para que ninguém a contemple amanhã.
O medo de morrer sozinho é por não ter ninguém para que vejam-nos morrer.
E não falo de morrer de sangrar...
Falo de morrer de deixar de existir.
Ninguém percebe, mas a todo segundo morremos e a cada segundo nascemos. Nesta ordem: morrer para nascer.
Morremos em pensamento, morremos de amor, de trabalhar, de cansaço. Sempre morremos e não nos damos conta.
E não dando conta disso, deixamos de nascer para aquilo que morremos.
Logo, deixamos de existir o que vivemos ser.
E não sendo, estamos mortos.
Esta é a pior morte.
A pior morte.

Os Dez Porquês que Morri

Se deixei esta carta é porque morri! Sim, morri! Seja da forma que for, morri.
Foi de solidão, e nada mais era válido para saciar minha extrema e exacerbada necessidade de acalento. Foi de tristeza que, primeiro, meu coração parou. Pela falta de calor compreendido, de carinho exagerado, por confusão e egoísmo do meu ser solitário.
Foi de não brilhar mais que, segundo, meus olhos opacos deixaram de abrir. Foi por não ver mais ninguém amigável sorrir e dizer “eu também gosto de você”. Foi porque a vida se tornou corrida que a luz das coisas passou despercebida.
Foi de tanto falar e não ser ouvido que, terceiro, minhas palavras e minha boca emperraram na mansidão do tempo que se escorre sem fazer ruídos. Foi por não fazer sentido que o desuso se tornou moda no hábito das minhas promessas.
Foi de não ser suficiente que, quarto, meus sentimentos se esfarelaram no turbilhão de desejos que a vida encomenda. Foi de não suprir a carência da carência que um dia alguém sentiu. Foi por impotência da minha orgulhosa capacidade, falsa, porém crédula, que fui fraco ao ponto de desistir.
Foi de tanto imaginar e não agir que, quinto, meus pensamentos exauriram toda a energia que, mesmo rara, me sobrava nas mãos. Foi de desespero que meus bloqueios impuseram a corte que sentenciou as queixas impróprias que não fariam mais efeito.
Foi por não ouvir o que precisava que, sexto, meus ouvidos me abandonaram. Foi por ouvir de menos o que se gritava obviamente que o cansaço de não fazer sentido na minha simplória ignorância que as palavras foram se extinguindo e eu, tolo, achei que não era culpa minha.
Foi por não saber aonde ir que, sétimo, meus pés se desvirtuaram de todo desejo intrínseco de ir em frente. Foi por falta de orientação que minha cegueira não me deixou ver o caminho a se seguir. Foi por ingenuidade que não segui os passos que ao meu lado imprimiam pegadas.
Foi por falta de motivação e incentivo que, oitavo, minhas pernas e braços se esgotaram e nada mais edificaram na maior displicência que minha expressão se esforçava em não mostrar.
Foi por imenso descuido da vida para comigo que, novo, meus lábios pálidos e dilacerados deixaram de sorrir. Foi por não ter espelhos que desaprendi o valor que a imagem tem a quem observa.
Foi por demasiada ganância que, décimo, meu espírito abandonou meu corpo descuidado e maltratado pelos obstáculos do caminho onde não fui forte o suficiente para agüentar o fracasso. Foi por absoluta dissonância dos meus desejos que me tornei uma criatura. Foi exatamente no limiar da imprecisão e da ausência de erros eu meus sapatos se desamarraram e resolveram me abandonar totalmente despido de rumos e orientações.
Foi quando me percebi como um erro de impressão que toda minha maquiagem borrou. Foi pelas lágrimas ácidas e incandescentes que meu rosto sem expressão congelou-se na expressão mais profunda da infinita solidão que meu corpo padeceu ligeiramente.
Foi pela lentidão dos meus atos que a vida passou velozmente ao meu lado. Não por entre meus dedos, porque a ida jamais esteve em minhas mãos. Pudera eu controlar minha existência... Teria morrido muito antes de a solidão trazer sua companhia: o sofrimento.
Foi por ter morrido que deixei de existir tristemente na indiferença alheia. Foi por ninguém me reparar que me escondi sob uma carcaça prepotente e supostamente forte, mas a máscara caiu quando minhas lágrimas borraram minha maquiagem.

Um Embrulho

Se eu pudesse dar a ela algo de meu, eu daria meu dia mais belo.
- Mas como eu daria a alguém um determinado dia?
Eu decoraria e escreveria sobre este dia e então, daria a ela!
Seria simples, mas mostraria a minha dedicação a ela. Não seria um presente caro, aliás, seria tão barato quanto um oi ou um olá dado a qualquer pessoa.
Começaria com um céu azul ensolarado, que remeteria minhas lembranças às suas feições brandas e encaloradas. O sol eu poderia comparar ao cintilar colorido de um par de olhos fuzilantes.
Se neste dia eu acordei de bom humor, é fato que se assemelharia ao sorriso tão cativante, quanto sedutor de uma tira de dentes alvos, minuciosamente postos tão bem alinhados. Os lábios cheios de carne e saliva seriam comparados ao meu café da manhã. Sim, meu café da manhã, pois devoro tão igual quanto devoro, com a fome que me aproximo, os lábios que me convidam a banquetear.
Eu daria como um poema, que faço dedicado e entretido, pensando no melhor das palavras e nas melhores palavras, para descrever aquilo tudo que minha mente brincalhona balbucia como o sorriso de uma criança ao ver a água e o brinquedo.
Se neste dia houvesse nuvens, como já disse que não estavam por lá, mas se por acaso houvesse, seriam a névoa de paixão que paira constantemente ao redor do meu peito. Porém se não há nuvens, isto não quer dizer que não há névoa de paixão. Há, numa forma invisível, tal como o vento, aliás, gostaria de chamar de brisa, mas é tão avassaladora quanto a tempestade.
Neste dia, os pássaros que cantam em galhos de árvores, eu os chamaria de declaradores, assim como eu, que não canto, mas declaro meu mais nobre sentimento. A cada nota musical, em um canto alto e revigorante, seria cada palavra que minha boca proferirá, aliás, perdão, já proferiu. Mas assim como os pássaros que não param de cantar, digo que agirei com tamanha rotina encantada.
O anoitecer descrevo como meu êxtase. Para cada estrela que pinta-se num céu negro, uma fagulha queima e estala num fio prateado que liga nossas almas. Nossa conexão é impossível que não se pareça com uma lua cheia. Sim, cheia, por que é tão bela quanto parece e tão grande que ilumina tudo. Ilumina os passos, pensamentos, amores e paixões.
Foi um dia simples, sem grandes acontecimentos, mas foi belo, foi calmo e apaixonante. Tudo tão igual a ela e tudo que vem dela.
Ao deitar-me em minha cama, macia e quente, nu, como me deito no seio dela, lembro de todo o dia que finda na mais linda e exuberante arte.
Ao acalentar-me no travesseiro, bramo o nome dela que rima com a minha pele, que encosta e dá arrepios.
Lá se foi um dia completo e mais uma vez a lembrança que faço dela tomou-me por inteiro, como o dia que ditei sem negar ou omitir. Senti cada lembrança e a lembrança tatuou-se no meu calendário.
Senti, vivi, escrevi. Este seria um dia perfeito a dar a ela.

Um Instante...

Um instante. Um instante é o que basta.
Durante a passagem do navio, durante seu nado, é o instante.
Um filme, uma imagem, uma lágrima, uma atitude. Todos no mesmo instante.
Um instante pode ser um momento, pode ser o devaneio da mente de alguém ou do autor, que continua sendo alguém.
Um insulto, um perdão, um olhar, um abraço. Tudo somente num único instante.
A rota muda somente no instante da atitude.
Ah, a atitude...
O instante é o pensamento, e tudo está no plano do pensamento.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Às Avessas

Esta é minha vida. Não é exatamente o que eu planejei para mim, mas são resquícios dos meus sonhos.
Sonhei um dia ser adulto, mas não me lembrei que a dor, o sofrimento, as privações e o medo estariam presentes num adulto.
Também sonhei em amar e ser amado, mas ninguém me contou que isto envolveria responsabilidade, desencontros e, em alguns casos, guerras e mortes.
Planejei um futuro, mas imaginei que não me decepcionaria, não teria tanta luta e, pra falar a verdade, não achei que sairia tão arranhado e machucado por conta das fronteiras que tive que ultrapassar.
Imaginei a vida um mar de rosas, porém me equivoquei ao pensar nisto como uma coisa boa, afinal, rosas têm espinhos, e foram neles que me engalfinhei e sangrei.
Pensei na dor como algo passageiro e conclui exatamente o contrário: somos nós passageiros para a dor. Dói somente o tempo necessário para que cheguemos no seu limite e ela fique para trás.
Vi as lágrimas como sinal de emoção e alegria, entretanto elas são mais de tristeza e aborrecimentos.
Na sua totalidade, meus sonhos não estão trocados, apenas estão o juízo que fiz de cada um.

Último Suspiro, Último!

Se me restasse um último suspiro, de pronto, estaria triste por sê-lo uma última vez. Mesmo que transcendental, o descontentamento permanente é a mola que nos incentiva ou nos empurra a ir em frente. E se, mesmo conformado com a inconformidade dos eventos, eu ainda tivesse direito a um último suspiro, faria com que fosse ouvido até a mais profunda masmorra que fortaleço em mim. Faria com que as portas que trancam se abrissem e liberassem o mais bestial sentimento para que fosse vitimado pela profunda e incontrolável solidão, que certamente é vizinha.
Se este último suspiro representasse, mesmo que não completa e perfeitamente, todo meu desalento, certificar-me-ia que dois deles ainda seriam diminutivos para tanto esmorecimento.
Incontestável é o desamor que se populariza em meio aos olhos opacos, que, nefastamente, tentam com tanta exaustão brilhar na neblina. Tentaria ao menos, intensificar meu suspiro dramaticamente para que, pelo menos à luz, fosse visto e ouvido.
De forma temerosa, penso que se somente meu desafeto meu suspiro grita silenciosamente em minhas cordas vocais, serei menos que minha metade destruída tenta ser desfazendo-se aos pouco. Muito mais que tudo isto, meu suspiro ainda retomará a força imaculada que se esvaiu pelas minhas lágrimas, desde o primeiro momento choroso que meu coração, franzino e pouco corajoso, assustou-se com a irregularidade dos instantes. Ademais, retomará toda a maquiagem rosada que minha expressão, agora pálida quase cinza, deixou escorrer pelas gotas das chuvas de outono, quando geralmente, eu sozinho caminhava ruminando pensamentos e emoções que amargavam minha boca.
E também, este último suspiro terá a função de adocicar meus lábios. Ora, diz-se tanto que devemos sentir o sabor doce que a morte tem. Por que continuar amargo então?
Este suspiro, este último suspiro, terá lugar guardado junto às fotos, lembranças, palavras e pedras atiradas, todos no decorrer de suspiros antecedentes. Será mais um ou será o último? Devo então ouvi-lo e ser dele um aliado, submisso, um estranho, ao mesmo tempo em que devo ser, eu, o porta-voz deste suspiro.
Este último suspiro virá como a folga na cinta que aperta a vaidade na altura do pescoço, hermeticamente chamada de “corda. Este que enforca, este que mata. Este que desencadeia um último e finalizante suspiro. E de fato é o último dos funestos suspiros.

Não há vagas.

Sinto-me como se num quarto de hotel, onde minhas coisas esperam-me por decidir.
Neste quarto, onde o cheiro habitual do cigarro agarra-se nas paredes para mostrar-me que não é meu, fica só por recusar-se perder o próximo a se deitar nesta cama.
Este banheiro, estas paredes, cama e armário, tudo, ou nada, de certa forma não me será companhia. Alguns por não ter escolha, outros, porém, por simplesmente não.
Parece passageiro e com a sensação vem o desconforto ao pensar no porque de conformar-se.
Parece lisonjeiro e com o orgulho do elogio e a autenticidade de um perdedor, as costas são a última vista do quarto.
Cindido, atravessado, como uma estaca cravada nas laterais da minha imaginação, reproduzo a memória de um teto onipresente que, apesar dos olhos vendados, presenciou a companheira dos momentos de vazio do quarto despir-se e nua, acomodar-se entre as roupas da minha mala.
O eco do meu diálogo com o espelho se espalha entre as rachaduras até atravessar o meu finito espaço criativo.
Das minhas convenções, em cada quadrado do meu chão estão, como num hall da fama, marcados num sem-fim de poeira, a evidência da minha passagem solitária.
Minhas ranhuras, meus engalfinhamentos, meus lençóis, puras e claras notas do desenlace das malas e do profundo e calmo, como o nascer das raízes de uma frondosa árvore destinada a um ou dois centenários, retrocesso do tirar e voltar a pôr, muito lentamente.
Minha sombra, que num piscar de olhos desaparece e aparece deixa seu calor, para que junto à fumaça, se esvoace no vão do vitrô, como um voal que se mostra antipática à presença do tempo.
A cortina do último viajante, ainda mau posta e encardida, encobre toda a luz que fortuitamente atravessa os cubículos do algodão que forçosamente e inútil, tenta formar-se num todo para esconder a janela numa parece branca da cor do desespero e da loucura.
Remetendo-me à toda malfadada servidão, a garrafa, grunhindo como uma morte lenta, colando meus pés num piso gorduroso, acaba por esfriar meu café, justamente por eu não tomá-lo.

Meu Encontro

Quando você me encontrar, estarei sozinho: fique alerta! É o sinal que lhe dou para se aproximar do meu coração.
Neste dia, estarei tão solitário quanto a última folha que resiste à chegada do outono, na copa da mais alta árvore, e desta forma, estarei disponível para um oi, um olá e até quem sabe para aceitar um convite seu.
Quando você se aproximar, terei nas mãos todos os tipos de ataques e defesas, pois meu coração está machucado e não suportaria que tornasse a maltratá-lo. Defender-me-ia dos teus galanteios e te atacaria caso chegasse muito, muito perto, tudo para evitar o arrebatamento.
Mas eu poderia ceder, não sem luta, pois não sou de ferro e meu espírito precisa de calor que venha de outro alguém, senão o meu ou de meus cobertores. Quem sabe eu me encante e dê-me por vencido.
No dia em que me encontrar, por favor, me reconheça. Estarei trajando minha melhor aparência e terei uma estampa no rosto, não muito grande, nem tampouco colorida: será até um pouco apática, porém se parecerá muito com um sorriso. Não será por vê-la chegar, pois estarei um pouco cego e atormentado pelo estado de embriaguês. Terei me embebido de tanta deprimência que talvez tua melhor graça não me faça rir, mas não desista. Não sou de todo tristeza.
Estarei chutando uma ou outra pedrinha, pois companhia melhor eu não terei neste momento. Evitarei quem possa afastar a tua chegada.
No céu, se passar uma estrela cadente será pura coincidência, mas faça um pedido e que este pedido se realize, pois sei que pedirá que eu te acolha com toda animação e prazer que pode surgir em uma pessoa.
Caso eu esteja do outro lado da rua, atravesse você. Atravesse e ande ao meu lado ou um pouco atrás de mim, somente para sentir meu perfume. Exalarei cheiro de carência e de quem quer colo. Meu cheiro ainda parecerá de girassol, que cresce sozinho e olha para o sol na esperança que seja visto.
Não passe à minha frente, pois verá minha maquiagem e talvez seja num momento em que ela esteja borrada por conta de tanto esmorecimento. Você verá meu eu absoluto e não se decepcione: serei eu na maioria do tempo enquanto você tenta me encontrar.
Estarei pelas esquinas. Desta forma, será mais fácil me encontrar. Afinal, a vista de todas as ruas dará para aquela esquina onde remonto minhas esperanças de ser encontrado.
Se eu quiser pegar na sua mão, atenda-me prontamente. Estarei dando-te o primeiro passo que você deveria dar. É fato que estarei sozinho e assim, um pouco de acalento ao meu coração e corpo já quase desfalecido, será de grande importância.
Quando me encontrar, sorria-me: será teu primeiro sinal para me desarmar e abaixar a guarda. Sei que nesta hora, terei tudo que preciso: de um encontro.