quarta-feira, 9 de junho de 2010

Reflexos

Sem pensar, eu fui escrevendo... e percebi a fragilidade do existir. A fragilidade do pensar, sentir, ver, viver.
Pensei a respeito dos significados e percebi também que para cada um, as coisas são diferentes.
Toda vez que chorei, recordo-me, em nenhuma foi pelo mesmo motivo. Não que eu tenha tido, e tenha, motivos tantos ou de sobra, mas cada momento exprime relevância diferente e parja cada importância, uma lágrima diferente.
Não é simplesmente pessimismo ou uma tentativa de parecer visceral, é apenas a expressão verbalizada da dança num ritmo descompassado.
Para cada um, passos podem ser apenas passos, mas à medida que se vai em frente, percebe-se a intransponilidade de alguns obstáculos. E não adianta dizer que algo ajudará a superar, algumas coisas e pessoas simplesmente não conseguem.
Desejar por desejar, todo mundo o faz. Há quem deseja comer e não come. Há quem deseja morrer e vive. Há quem deseja parar, mas tem que ir em frente. Desejar simplesmente não significa conseguir, ter ou obter. Há quem deseja viver e morre...
Coisas erradas sempre existirão e as certas deverão ser uma reinterpretação das erradas. Quem sabe um dia chuvoso não seja uma tentativa de prevenir o excesso de velocidade que levará ao acidente, à morte, ao fim.
A música nem sempre é bem-aventurança. Nela co-existem a alegria, a tristeza e todas as outras emoções. Você só ouvirá aquelas que seus ouvidos do espírito quiserem ouvir e não todas as que a música canta. Não adianta, a todo custo, querer mudar ou melhorar. Algumas coisas simplesmente devem ser do jeito que são. Algumas pessoas precisam sofrer tudo aquilo que tentamos remediar para que cresçam e percebam o mau que faziam a si próprias.
Temos que parar de querer ser os heróis dos fracassos. Eles existirão em alguma instância, e cada vez mais naquelas onde não temos acesso ou controle.
Ser somente parece não estar bastando. Temos, ultimamente, que superar, além dos outros, a nós próprios. E ser mais do que somos é tão difícil, pois achamos ser sempre o melhor que podemos ser. Voltar a nós um olhar crítico e de desprezo é tão difícil quanto simplesmente olhar para nós.
Acusar o outro deveria ser uma auto-análise. Só vemos no outro, seja este outro qualquer um, aquilo que também é nosso. Se vemos o outro como fraco é porque sabemos identificar um alguém fraco e só sabemos criticar aquilo que temos conhecimento, ou seja, aquilo que também somos: fracos.
A consistência das coisas consiste nos significados que damos a elas e na importância que damos. Nunca ou talvez nunca faremos aquilo que julgamos pouco ou nada importante. Correr atrás do dinheiro é atividade somente daqueles que dão tamanha importância às aparências e às posses. O ser e o viver caminham lado a lado e em sentido oposto às necessidades carnais e mundanas. Somente aquele que é em essência terreno saberá ver apenas o que é em essência material. Aquele que se descola com profundidade conseguirá ter tudo que é necessário sem sentir falta de um preenchimento de cores.
Até mesmo o próprio vazio é preenchimento.
Estar cheio de vazio representa a busca por algo que é maior que o próprio viver.
O vazio é a busca de algo maior que o próprio ser e existir. Algo muito maior.
O vazio é a busca de algo maior que o próprio viver.