quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Último Suspiro, Último!

Se me restasse um último suspiro, de pronto, estaria triste por sê-lo uma última vez. Mesmo que transcendental, o descontentamento permanente é a mola que nos incentiva ou nos empurra a ir em frente. E se, mesmo conformado com a inconformidade dos eventos, eu ainda tivesse direito a um último suspiro, faria com que fosse ouvido até a mais profunda masmorra que fortaleço em mim. Faria com que as portas que trancam se abrissem e liberassem o mais bestial sentimento para que fosse vitimado pela profunda e incontrolável solidão, que certamente é vizinha.
Se este último suspiro representasse, mesmo que não completa e perfeitamente, todo meu desalento, certificar-me-ia que dois deles ainda seriam diminutivos para tanto esmorecimento.
Incontestável é o desamor que se populariza em meio aos olhos opacos, que, nefastamente, tentam com tanta exaustão brilhar na neblina. Tentaria ao menos, intensificar meu suspiro dramaticamente para que, pelo menos à luz, fosse visto e ouvido.
De forma temerosa, penso que se somente meu desafeto meu suspiro grita silenciosamente em minhas cordas vocais, serei menos que minha metade destruída tenta ser desfazendo-se aos pouco. Muito mais que tudo isto, meu suspiro ainda retomará a força imaculada que se esvaiu pelas minhas lágrimas, desde o primeiro momento choroso que meu coração, franzino e pouco corajoso, assustou-se com a irregularidade dos instantes. Ademais, retomará toda a maquiagem rosada que minha expressão, agora pálida quase cinza, deixou escorrer pelas gotas das chuvas de outono, quando geralmente, eu sozinho caminhava ruminando pensamentos e emoções que amargavam minha boca.
E também, este último suspiro terá a função de adocicar meus lábios. Ora, diz-se tanto que devemos sentir o sabor doce que a morte tem. Por que continuar amargo então?
Este suspiro, este último suspiro, terá lugar guardado junto às fotos, lembranças, palavras e pedras atiradas, todos no decorrer de suspiros antecedentes. Será mais um ou será o último? Devo então ouvi-lo e ser dele um aliado, submisso, um estranho, ao mesmo tempo em que devo ser, eu, o porta-voz deste suspiro.
Este último suspiro virá como a folga na cinta que aperta a vaidade na altura do pescoço, hermeticamente chamada de “corda. Este que enforca, este que mata. Este que desencadeia um último e finalizante suspiro. E de fato é o último dos funestos suspiros.

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