domingo, 7 de fevereiro de 2010

Considerações sobre o adeus

Nunca alguém disse-o sinceramente. Nunca alguém desejou partir ou deixar que o outro fosse. Deixar ir ou ir é o mesmo que perder parte de si, por que cada um é o que é por conta da relação com o outro.
Dizer adeus requer uma força tão igual à necessária para viver. Por isto, ao dizer adeus parecemos estar morrendo ou já estarmos mortos, pois gastamos força e energia bastante, o suficiente para que padeçamos.
Adeus representa o fim. O fim de qualquer coisa, mas principalmente de relações.
Não dizemos adeus vulgarmente. Dizemos para algo ou alguém com quem mantemos relação. Uma pessoa que ficou no passado, uma roupa que se rasgou, um chinelo que não calça mais ou um disco que não mais canta, todos mantinham uma relação conosco.
Se é o outro que nos define, um adeus causaria um caos em nossas percepções. Um adeus faria com que nos tornássemos fragmentos.
Fragmentos estes que espalhados nada significam. Uma ou outra parte isoladamente não corresponde ao todo.
Minha parte de tristeza não seria nada se não estivesse colada em mim. Tampouco meus sorrisos, gestos, insônia, pormenores... Nada me definiria, senão todos juntos. Cada parte poderia somar a um estranho, porém depois de um adeus, subtrairiam de mim.
Um adeus dito está dito!
Não há como fazê-lo voltar boca adentro. A relação está dissolvida. O espelho quebrado; por que é isto que é: um espelho; onde nos vemos, nos percebemos no reflexo dos olhos do outro.
Um adeus é fatal e é por este motivo que nunca alguém desejou reproduzi-lo sinceramente: ninguém quer ter na consciência a culpa pela destruição. Isto é responsabilidade do tempo. Somente o tempo pode destruir uma relação, seja ela da espécie que for, sem que culpe-se por isto. Afinal, é esta a sua função: corroer.

Um comentário:

Unknown disse...

E assim, o tempo nos diz se o adeus foi verdadeiro ou se foi apenas e desejo de: um dia voltarei!

Parabéns pela prosa amigo!!!!