quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Infortúnios

As coisas morrem e temos que aceitar isto.
E não morrem por tristeza, fome ou doença. Morrem por que é a ordem natural da vida. Morrem por que já maduraram. Morrem porque matam-nas, às vezes.
E temos que aprender que elas não voltarão. Não pelo menos como eram.
E aprendendo que elas não voltam mais, aprendemos a viver sem elas.
E nos acostumamos. Feliz ou infelizmente.
Não é algo agradável de se dizer ou pensar. A morte, em algumas vezes, é pouco convincente e conveniente com a hora.
São as pessoas que se vão. São nossas coisas, nossos costumes... nossos “eus” que morrem.
E para cada morte que presenciamos nos damos o desplante de substituí-los por outras roupas, outros amigos, outros filhos, outros amores, outras vidas... outros “eus”.
E nada será novamente como sempre.
O “Para Sempre” só dura até que acabe, mas nos faz ser bobos e otimistas a ponto de crer que realmente será pra sempre verdade.
E quando eu lembro de tudo que já acreditei ser pra sempre, eu paro de pensar e lembro o quão sonhador já fui e que hoje, nada melhor que uma boa dose de realidade.
Quando eu sinto a morte próxima eu sorrio, pois sei que algo nasce toda vez que se morre.
Morrendo dá-se a liberdade de ser o que se pensar querer.
Morrendo dá-se a vontade de realmente morrer.
É morrendo que se vive.
Pois quando se têm os dias contados se aproveita cada segundo que se aproxima do fim.
Pois quando não se têm escolhas, a única que se tem a fazer é morrer para viver novamente.
Quando se vive estamos passivos de morte.
E felicite-se: é a melhor parte!
Ninguém sabe viver o hoje, pois têm medo de morrer à noite. Têm medo de morrer amanha. Têm medo de nunca morrer.
E assusta morrer e não nascer. Amedronta. Aterroriza existir e não ser e não viver.
Por isto tem-se o medo de morrer e deixar de existir o que não se vive.
O medo de morrer um dia é o mesmo medo de não nascer todos os dias. É o mesmo medo de que se nunca nasça.
O pior é quando algo morre e nada nasce no lugar.
Como uma árvore que morre sem deixar frutos nem sementes para continuar vivendo.
Para que ninguém a contemple amanhã.
O medo de morrer sozinho é por não ter ninguém para que vejam-nos morrer.
E não falo de morrer de sangrar...
Falo de morrer de deixar de existir.
Ninguém percebe, mas a todo segundo morremos e a cada segundo nascemos. Nesta ordem: morrer para nascer.
Morremos em pensamento, morremos de amor, de trabalhar, de cansaço. Sempre morremos e não nos damos conta.
E não dando conta disso, deixamos de nascer para aquilo que morremos.
Logo, deixamos de existir o que vivemos ser.
E não sendo, estamos mortos.
Esta é a pior morte.
A pior morte.

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