Sustentei-me através dos tempos somente de aparências.
Foram elas que possibilitaram a minha sobrevivência.
Se de aparência que me apresento, devo à minha nobre justificativa meu sucesso por onde passei.
Como algo é conhecido, numa segunda instância, apreciado e talvez enaltecido, senão pela aparência convidativa?
Meu coração jamais seria descoberto.
Minhas palavras jamais ouvidas.
Meu olhar jamais lançado.
Meu sentimento jamais retribuído se não fosse por minhas aparências amigáveis.
Quisera eu que tudo fosse o contrário.
Que o conteúdo sabido antes mesmo do olhar preconceituoso.
Da aproximação pelo aconchego e não pelas marcas.
Da paixão por identidade e não por cor.
Porém isto nunca aconteceu, tampouco acontecerá.
E foram pelas aparências, pelas imagens, pelos nomes que as vidas se construíram.
E eu, em meio a tudo isto, não pude evitar de me utilizar destas mesmas artimanhas.
Acabei sendo eu meu próprio cartão de visita.
Trajo-me bem por isto: para que desejem que eu esteja por perto e que se aproximem.
Afinal, se me descuido, julgar-me-ão sujo e talvez, meu conteúdo, vasto e rico, nem seja conhecido.
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